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quinta-feira, 31 de maio de 2012

A BACIA DO RIO DO PEIXE – antiga morada dos dinossauros


   


A BACIA DO RIO DO PEIXE –
antiga morada dos dinossauros



Antonio Nogueira da Nóbrega



A bacia do rio do Peixe é uma área de terrenos da Era Mesozóica, encravada no oeste do Estado da Paraíba, cuja formação geológica consta de arenitos e folhelhos dispostos em camadas alternadas. Com a sua forma alongada e irregular, ela se estende do município de Uiraúna-PB até l6Km antes de Pombal-PB. Sua extensão máxima é de cerca de l00Km, seguindo-se o eixo longitudinal que passa por sua parte média. Já seu comprimento médio, na direção oeste-leste, desde Mari-CE até l6Km antes de Pombal, é de 80Km. A sua largura máxima é de aproximadamente 20Km, seguindo-se o meridiano que passa por Sousa-PB. (Ver em “Serra e Montanhas do Nordeste”. MORAES, Luciano Jaques de. Inspetoria de Obras Contra as Secas. Publicação série I-D 58, vol. 2, 1924).
Em épocas remotas, os dinossauros eram os verdadeiros senhores da bacia do rio do Peixe. Surgiram há 220 milhões de anos, ou seja, na passagem do Triássico médio para o superior, e expandiram-se por quase toda a Terra, dominando-a até o fim do Cretáceo. Desapareceram do orbe terrestre há 100 milhões de anos, depois de um reinado de cerca de l40 milhões de anos, deixando suas pegadas impressas na lama que virou pedra. Até então, as placas continentais estavam reunidas, formando um único continente; o Nordeste brasileiro e a África equatorial estavam unidos, vindo a separar-se pelos oceanos no final Era cretácea. (Ver “Rastros de um mundo perdido”, em Ciência Hoje, vol. 2, n° 15).
Assim, desafiando as intempéries dos tempos, aliadas à ação dos predadores e/ou depredadores, como também ao descaso, muitas pegadas continuam impressas no barro petrificado de Passagem de Pedra, entre outros lugares do município de Sousa; Araçás, Juazeirinho, Fazenda Velha (barragem de Domício, hoje de Ovídio), Engenho Novo, Cabra Assada, Brejo das Freiras, Zoador, Baixio de Cima, Rio Novo, Aroeiras, Varzinha, entre outras localidades do município de São João do Rio do Peixe. São trilhas e mais trilhas que estão aí comprovando a existência desses gigantescos animais pré-históricos que dominaram a região que hoje compreende o oeste paraibano. O “Vale dos Dinossauros” compreende uma área de mais de 700 km2 e abrange os municípios das bacias do rio do Peixe e Piranhas.
Quem primeiro chamou a atenção para existência desses rastros, na bacia do rio do Peixe, foi o geólogo brasileiro, Luciano Jaques de Moraes, no ano de 1924, quando divulgou, em sua obra: “Serras e Montanhas do Nordeste”, as características de duas pistas de dinossauros, diferentes entre si, encontradas no leito do rio do Peixe, no município de Sousa-PB, no ano de 1920. Na época, ele encontrava-se a serviço da então Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (hoje, DNOSCS). Apesar da sua importância, esse precioso achado fóssil ficou esquecido por um longo período, só voltando à baila no ano de 1975 quando o paleontólogo italiano, Giuseppe Leonardi, começou a explorar, de maneira sistemática, algumas áreas da bacia do rio do Peixe.
Segundo Giuseppe Leonardi, que, durante 15 anos, esteve pesquisando essas pegadas, no Brasil, alguns desses animais eram gigantes de até 30 metros de comprimento e 80 toneladas de peso, como é o caso dos ultrassaurus. Todavia, existem também pegadas de dinossauros de pequeno porte, do tamanho de um frango, como os strutiomimus.
Entre as centenas de rastros fósseis encontrados na bacia do rio do Peixe, há um que chama a atenção, em particular, qual seja: a pista de um bípede, de grandes dimensões, possivelmente um saurópodo, com 25 metros de comprimento, pertencente ao Cretáceo inferior (entre 111 e 135 milhões de anos atrás), cujas patas traseiras eram enormes. Tanto assim que a pegada do pé tem quase um metro de comprimento, e foi achada por Leonardi, no dia 25-12-1984, no sítio Engenho Novo, município de São João do Rio do Peixe. Ela é, com certeza, a primeira do gênero já encontrada no Brasil, onde essa espécie de dinossauro viveu há mais de l20 milhões de anos. Entretanto, já foram encontradas ossadas do animal em terras brasileiras, mas do Cretáceo superior, ou seja, entre 63 e 87 milhões de anos atrás. (Ver “Mais pegadas de dinossauros na Paraíba”, em Ciência Hoje, vol. 3º, n° 16).
No ano de 1944, ocorreu uma interessante descoberta fóssil no município de São João do Rio do Peixe. Ei-la: estavam sendo realizadas algumas escavações nas proximidades das fontes de Brejo das Freiras, para a construção do hotel e o balneário daquela Estância Termal, quando foi encontrada a ossada de um dinossauro, que se achava a mais ou menos dois metros de profundidade, exatamente no local onde hoje fica a piscina. Esse achado permaneceu, por vários dias, exposto à visitação pública. Depois disso, foi encaixotado e levado para lugar ignorado. Hoje se sabe que esse fóssil encontra-se no Museu Nacional do Rio de Janeiro, fazendo parte do acervo daquela instituição, e não pode retornar ao lugar de origem. Francisco Nogueira Pinheiro, mais conhecido por Chico Pequeno – de quem estes dados foram colhidos – foi testemunha ocular desse achado. Na época, ele residia no lugar, ou seja, Brejo das Freiras, onde faleceu a 02.11.2007, aos 89 anos de idade.
Respondendo a uma pergunta que lhe fizera no dia 01/03/1999, a respeito desse achado fóssil, Francisco Nogueira disse, entre outras coisas, o seguinte:
“(...) Vi quando começaram a arrancar do primeiro osso até o derradeiro; ossos dum dinossauro... Assisti arrancar toda a ossada! Vi!... Vi!... Peguei nos ossos! A dentadura dele era uma coisa muito impressionante. Era uma o... os dentes assim aboleados, bem roxinhos, como ovo de codorniz; aqueles dentes ligados no mesmo osso do queixo. Tá vendo? Vi uma costela, uma costela mais ou menos assim com... de seis a sete palmos de altura... de comprimento. A costela era uma coisa impressionante. Os ossos do corredor pareciam uma coisa viva, que tinham sido tirados naquele instante. Ninguém sabe nem quantos mil anos fazia que estavam enterrados aqueles ossos. Mas o osso do corredor, a cabeça do corredor... direitinho, limpinho... e não tinha nada estragado. Isso que estou contando foi o que eu vi! E esses ossos foram tudo... passaram muitos dias lá encima de uma mesa; de lá foram encaixotados e levados para o Rio de Janeiro, pros laboratórios de lá. Pronto! Era isso o que eu tinha a dizer.”
Devido à grande importância desses rastros fósseis, quer do ponto de vista científico, quer turístico, eles deveriam ser protegidos, o quanto antes, não só da ação do tempo, mas também dos predadores que, segundo se sabe, vêm agindo nesses locais, destruindo esse valioso patrimônio pré-histórico que a natureza nos legou, conservando-o durante milhões de anos. Dá pena assistir a tudo isso. Às vezes, algumas pedras, contendo registros fósseis, são arrancadas e levadas para outros lugares fora do município, como as pegadas ANJU 1 e ANJU 2, por exemplo, que foram retiradas do Sítio Juazeirinho e levadas para o município de Sousa, onde hoje se encontram. Para quem não sabe, ANJU significa Antenor Navarro/Juazeirinho. Assim, elas foram classificadas pelo Padre Leonardi. ANJU 2 é uma “Pista bípede de duas pegadas tridáctilas, bem impressas, com garras evidentes”.
Seria bom se fossem tomadas algumas providências urgentes, com vistas à proteção desse valioso legado pré-histórico, preservando-o para as gerações vindouras. Todavia, em pouco tempo, dezenas de pegadas já foram destruída, o que é lamentável. Não custa nada lembrar o velho adágio popular: “Não adianta chorar o leite derramado.”

                                                                                                    

“Assim, em curto espaço de tempo, o homem destruiu rastros que a natureza preservou durante milhões de anos, o que demonstra a urgência das medidas voltadas para a proteção dessas obras-primas, essenciais ao estudo da evolução da vida no planeta.” (Ciência Hoje, vol. 2, n° 15).

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