UM OLHAR RETROSPECTIVO SOBRE
SÃO JOÃO DO RIO DO PEIXE
Antonio Nogueira da Nóbrega
Recuando ao longínquo ano de
1691, vamos deparar com o sargento-mor Antônio José da Cunha, morador na
capitania de Pernambuco, à frente de um grupo de escravos e índios domesticados,
embrenhando-se pelos sertões paraibanos com o objetivo de descobrir terras onde
pudesse acomodar seus gados. Subindo o Piranhas, descobriu ele um afluente
desse rio, chamado riacho Peixe, em cujas margens habitavam os Icó-pequenos, os
primitivos habitantes da região.
Depois de conquistar a amizade
dos índios, Antônio José da Cunha estabeleceu-se com a sua fazenda de criação
(com mais de 1.500 cabeças de gado vacum e cavalar), às margens do rio do
Peixe, nas proximidades do local onde agora se ergue a cidade de São João do
Rio do Peixe.
Em
1708, no governo provincial de João da Maia da Gama, Antônio José da Cunha, sob
a alegação de que há 17 anos sem contradição de terceiros, vinha povoando essas
terras, requereu-as e obteve a sua posse, cuja concessão, datada de 29 de
novembro do mesmo ano, recebeu o número 80.
No ano de 1752, ao que consta, o local onde hoje se
acha a cidade de São João do Rio do Peixe já era conhecido por São João, quando
então pertencia ao Sr. João Manuel Dantas. É certo que, em 1765, essa fazenda já
não mais pertencia a esse senhor, mas sim ao capitão-mor João Dantas Rothea, morador
no distrito de Piancó, PB.
Com o correr dos anos, a essa primitiva denominação
– que resultou de uma homenagem do fundador da fazenda ao santo de sua devoção
– acrescentou-se o nome do rio que banha a localidade, a qual passou a
chamar-se São João do Rio do Peixe. Antes, porém, foi conhecida pelos nomes de
São João de Sousa e São João da Vila Nova de Sousa, respectivamente, em virtude
de pertencer a esta vila de então. Entretanto, esse nome de batismo, com o
qual a localidade, sob as bênçãos de São João Batista, foi fazenda, povoado,
distrito e vila, perdurou até o início da década de 1930, quando, por força do
Decreto Municipal n°. 50, de 26/05/1932, confirmado pelo Decreto Estadual nº
284, de 03/06 do mesmo ano, foi mudado para Antenor Navarro. Tal fato se deu em virtude do Sr. Natércio Maia,
prefeito de então, entender de prestar uma homenagem à memória do Interventor
Federal desse nome, morto no dia
26/04/1932, num desastre aéreo nas
costas da Bahia.
Felizmente, a 05/10/1989, por ocasião da promulgação
da nova Constituição do Estado da Paraíba, a povoação, depois de 57 anos,
recuperou sua antiga e histórica denominação: São João do Rio do Peixe, graças
a uma proposição apresentada pelo deputado estadual, por nosso município, Dr.
José Aldemir Meireles de Almeida.
Acredita-se que, por volta do último quartel do
século XVIII, João Dantas Rothea tenha feito a doação de um terreno onde o
Padre Ignácio da Cunha Siqueira ergueu uma capela consagrada à invocação de
Nossa Senhora do Rosário. Nessa capelinha tosca, de taipa, o Padre
Ignácio de Sousa Rolim – o fundador da cidade de Cajazeiras – submeteu-se ao
batismo no dia 08/09/1800.
O tempo foi passando. Pouco a pouco, novas moradias
foram surgindo em torno do velho oratório. Aos antigos moradores do lugar,
foram-se juntando outros, mais outros e outros mais. Preocupado com o
crescimento da população, o Padre José Gonçalves Dantas, devotado à causa de Deus, chamou a si a tarefa de
erguer um templo capaz de comportar
todos os fiéis da Virgem do Rosário, iniciando a sua construção em 1855. A nova
capela, igualmente consagrada à invocação de Nossa Senhora do Rosário, recebeu
foros de Igreja-Matriz por força da Lei provincial nº 96, de 28/11/1863, ano da
conclusão de seus trabalhos. Pela mesma lei, a freguesia, com o nome de Nossa
Senhora do Rosário, libertou-se da de Nossa Senhora dos Remédios, do município
de Sousa. Data daí, naturalmente, a
criação do distrito, com a denominação de São João do Rio do Peixe, subordinado
ao município de Sousa. Assim,
lentamente, foi se formando a povoação. Tempos depois, no dia 8 de outubro de
1881, a Lei provincial nº 727, dessa data,
concedeu-lhe foros de vila, tendo sido o seu território desmembrado do
município de Sousa, dando-se a sua instalação em 26/02/1882. É bom lembrar que não se deve
confundir a fundação de um município com a sua emancipação política. A primeira
diz respeito ao lançamento dos primeiros fundamentos da cidade; a segunda, à
sua libertação do município que lhe deu origem. Portanto, o que se comemora, no
dia 8 de outubro de cada ano, é a emancipação política de São João do Rio do
Peixe, ou seja, a sua libertação do município de Sousa, e não a sua fundação.
De ordem do governo da província da Paraíba,
realizam-se eleições em 10/09/1882, para a escolha dos primeiros vereadores de
São João do Rio do Peixe, tendo sido eleitos: Manuel Vicente Correia de Sá
(presidente), Antônio Soares de Oliveira, Bento Joaquim Breckenfeld, Antônio
Gonçalves de Jesus, Esperidião Ribeiro Maciel, Carlos José de Santana e Antônio
Vieira de Paulo.
Depois, muito tempo depois, com base na Lei Orgânica
federal nº 311, de 02/03/1938, o Decreto-lei estadual nº 1.010, de 30/03/1938,
que fixou o novo quadro territorial do Estado da Paraíba, concedeu foros
de cidade à sede do município. Já a comarca, abrangendo um único termo, foi
criada por força do Decreto-lei nº 39, de 10/04/1940, desmembrada da de Sousa,
tendo sido instalada por Dr.
Francisco Vaz Carneiro, que foi seu primeiro juiz de direito.
Como se vê, São João do Rio do Peixe – uma das mais antigas povoações do oeste
paraibano – nasceu e floresceu em terras da antiga fazenda São João,
pertencente ao capitão-mor João Dantas Rothea, doador de um terreno onde o
Padre Ignácio da Cunha Siqueira ergueu uma capela consagrada à invocação de
Nossa Senhora do Rosário. Por isso, esse senhor é considerado, com muita
justiça, o fundador da cidade.
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