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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

NO TEMPO DE LAMPIÃO




NO TEMPO DE LAMPIÃO

                                                                                Antonio Nogueira da Nóbrega
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          Numa manhã de outono, quando a “folhinha” assinalava 14/05/1927, João Nóbrega da Silva, garoto de uns 16 anos, pouco mais ou menos, conhecido como Joãozinho, descia a ladeira na direção de Pilões, feliz da vida assobiando uma modinha de sua predileção. Ao chegar à cabeceira da parede do “açudinho”, sobre a qual teria de passar, depara com um cangaceiro do bando de Lampião, armado até os dentes, que lhe pergunta, logo de cara, o que havia na vasilha que conduzia debaixo do braço. O garoto, muito assustado, de olhos arregalados, responde-lhe, com a voz trêmula, que eram ovos de galinha que fora comprar para o almoço.
O cangaceiro aproximou-se de Joãozinho e apontou-lhe um fuzil engatilhado, barrando-lhe a passagem.
                - Menino, você gosta de ovo cru ou estralado? – pergunta-lhe o bandido com ar ameaçador.
               - Nem cru nem estralado! Eu não gosto de ovos, não, meu senhor! – responde-lhe o pirralho, tremendo da cabeça aos pés.
                - Ah! Entendi! Mas, prepare-se, porque você vai engolir esses ovos tudinho, já-já! - sentenciou o bandoleiro. Com uma das mãos, o cangaceiro foi tirando os ovos da vasilha, um a um, e quebrando-lhe uma das extremidades no cano da arma e dando ao menino para ingerir.
                A cuia já estava se esvaziando quando, de repente, surge outro cangaceiro de dentro
do mato e grita:
                - Não faça isso com a criança, rapaz!
                Deixe-o passa em paz, no que foi obedecido.
Joãozinho era de baixa estatura; por isso, o cangaceiro chamou-o de criança.
               Logo que se desvencilhou das mãos do cangaceiro, Joãozinho tirou de uma carreira até a entrada do povoado onde morava. Quando entrou em casa, encontrou todo mundo em polvorosa, arrumando as trouxas para fugir para um serrote que fica bem próximo do lugar. Assim que os pilõesenses viram-se livres daquela presença ameaçadora, juntaram o que puderam de seus pertences e fugiram para o sopé do serrote, onde, durante 18 dias, ficaram refugiados (sem fazer qualquer barulho para não chamar a atenção dos cangaceiros), deixando para trás o lugarejo abandonado, deserto, como uma cidade fantasma.
              Essa era, portanto, a segunda vez que Lampião passava por São João do Rio do Peixe, surrando, assaltando e incendiando, além de matar diversas pessoas, entre as quais: Cícero Rafael e Antônio Belizário, residentes no sítio Formigueiro; Manuel Francisco de Assis, conhecido como Manuel Chiquinho, no Vaquejador; Antonio Quaresmas, em Santa Helena e Joaquim Gabriel, nos Cabaços, entre outros. A primeira passagem ocorreu no ano anterior, 1926, tendo sido marcada pelo assalto à casa comercial de João Marinho localizada no então distrito de Pilões, onde o comerciante residia. Além do prejuízo material que lhe causaram, os cangaceiros tiveram a ousadia de danças com suas filhas, causando-lhe grande constrangimento. Envergonhado e revoltado, com tamanha ofensa moral, João Marinho vendeu todos os seus bens e foi embora para bem longe daqui e nunca mais deu notícia.
Essa história me foi contada pelo próprio João Nóbrega da Silva e sua irmã, Ana Nóbrega da Silva, filhos de Francisco Nóbrega da Silva e Joaquina Nóbrega da Silva.

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