A
LENDÁRIA ESTRADA DAS BOIADAS
(Antonio
Nogueira da Nóbrega)
Na década de 1720 a 1730, quando o
sertão da Paraíba ainda era uma região bruta e selvagem, os filhos do
capitão-mor Teodósio de Oliveira Lêdo, o fundador de Pombal, já eram senhores
de um sítio de criar gado na ribeira do rio do Peixe, chamado Araçás,
localizado no atual município de São João do Rio do Peixe.
Em 1732, o capitão-mor Antônio de
Oliveira Lêdo, como representante de seus irmãos, arrendou esse sítio ao
coronel Garcia D’Ávila Pereira, cuja escritura de arrendamento, datada de 21 de
agosto desse ano, foi lavrada e passada no antigo Arraial de Piranhas (hoje
Pombal), ao qual, na época, encontrava-se jurisdicionado o território do atual
município de São João do Rio do Peixe.
Por volta de 1740 a 1760, um
português se estabeleceu no local, onde nasceram dois filhos seus: Jerônimo
Manuel do Canto e Tomaz de Sousa Dias, dos quais descende numerosa parcela da
população de São João do Rio do Peixe, aproximadamente, um terço, segundo Dr.
Antônio de Sousa Feitas, cirurgião-dentista, já falecido. (SOUSA, Antônio José de. Apanhados Históricos,
Geográficos e Genealógicos do GRANDE POMBAL, páginas 312-314. Gráfica
Comercial, 1971.)
Ao chegar ali, esse português
construiu casa de residência e currais de gado. Iniciou os primeiros plantios
e, com o passar dos tempos, encheu os sertões de “Sousa e Dias”, cujos
descendentes, ainda hoje, vêm-se projetando na vida socioeconômica de São João
do Rio do Peixe, como também de outros municípios. Em torno do local, graças ao
desenvolvimento da agropecuária, novos colonizadores foram se fixando, dando
ensejo ao surgimento de novos sítios de agricultura e de criação, cujos nomes
atravessaram séculos e chegaram até aos nossos dias.
Coube, portanto, a esse colonizador a
tarefa de povoar e promover o desenvolvimento dessa localidade. Mas, para isso,
teve de enfrentar os mais sérios desafios. Com coragem e pertinácia, conseguiu
superar todos eles, com exceção de um, com o qual foi obrigado a conviver pelo
resto da vida, cujo legado foi deixado, não só aos seus descendentes, mas
também a todos os habitantes dos sítios Juazeirinho, Araçás, Junco, Barra de São Bento,
Barra do Bé, Lagoa do Mel, entre outros. Eis, então, o insuperável desafio: as
precárias condições de tráfego da via que dá acesso a essas localidades, que,
nos períodos chuvosos – por ser ela cortada por três riachos, só no trecho
Fazenda Velha – Araçás – torna-se intransitável e isola, praticamente, toda
aquela vasta região do resto do município, por semanas a fio.
Essa estrada – cordão umbilical
através do qual São João do Rio do Peixe nasceu ligado a Sousa – é tudo o que
restou da lendária “Estrada das Boiadas”, à qual o progresso vem-se mostrando
indiferente. Outrora, ela ligava o Jaguaribe–Ceará, a Campina Grande-PB,
depois de passar por São João do Rio do Peixe, Sousa, Pombal, Patos, entre
outros. Atualmente, está reduzida a pouco mais de 20 quilômetros, pelo menos no
alto sertão paraibano. Ela é um pouquinho de São João do Rio do Peixe, pois,
sem que muitos o saibam, pelas curvas dessa trilha sinuosa, nossos
antepassados, com sangue e heroísmo, escreveram as páginas de nossa história,
cujos fatos vêm-se perdendo na tradição oral.
Mas não sei se por ironia ou descaso de
nossos administradores, essa estrada – com exceção de uma “passagem molhada”,
construída sobre o riacho do sítio Araçás, por volta de 1979 – por José Dantas
Pinheiro, prefeito à época - continua quase como fora feita, a cascos de bois,
nos longínquos tempos coloniais.
Em outras épocas, ela teve importante
papel na vida socioeconômica desta imensa região. Através dela, chegaram os
colonizadores e, posteriormente, os primeiros surtos de desenvolvimento. Por
ela, transitaram as grandes boiadas procedentes de Jaguaribe, com destino a
Patos e Campina Grande, entre outras. Sem falar dos cangaceiros e das volantes
que, nas primeiras décadas do século XX, encheram-na de medo e lendas. Por ela,
transitaram, também, os revolucionários de 1817 e 1824, que iam ou vinham do
Ceará. Dentre os seus transeuntes históricos, cintam-se “Frei Caneca”, o
principal líder da Confederação do Equador e os demais confederados, presos no
interior do Ceará, que cruzaram São João do Rio do Peixe por volta de
02/12/1824. Depois de uma longa e dolorosa caminhada, chegam a Pombal na noite
do dia 04 do mesmo mês e ano, passando por Patos na manhã do dia 07. Enfim, por
ela, passaram e continuam a passar todos os políticos da região, em vésperas de
eleições, à cata de votos; sem, no entanto, demonstrarem o menor interesse pela
melhoria de suas condições de tráfego.
Nas fases invernosas, quando os riachos
da Emboscada e do Olho d’Água transbordam, inundam, durante muitos dias,
extensos trechos dessa estrada, tornando-se um verdadeiro pesadelo para os
habitantes das localidades às quais ela dá acesso, deixando-os no mais completo
isolamento.
Nas épocas de enchentes, quem desejar se deslocar à sede do município, a fim de comercializar seus produtos, ou mesmo se abastecer de gêneros de primeira necessidade, nas feiras-livres, terá que fazer uma verdadeira maratona pelas cabeceiras desses riachos, onde as águas, provavelmente, são mais rasas. Além disso, aventurar-se-á por dentro de roçados, estreitos corredores, lagoas e atoleiros intermináveis; aumentando, portanto, a distância em duas ou mais vezes.
Enquanto todos se mostram indiferentes
ao sofrimento daquela gente, a velha trilha dos Icós-pequenos continua, como
pode, a desempenhar seu papel – como há mais de dois séculos. Só diferente
mesmo, em alguns trechos, quando ela já começa a desaparecer, ora numa lagoa
(quando chove), ora num capão de mato que, preguiçosamente, debruça-se sobre as
suas margens. É que, por ela já não trilham mais as boiadas de outrora, que,
com seus cascos estropiados, pela longa caminhada, riscavam a caatinga e
reabriam a picada.
Mesmo assim, essa estrada ainda é de
vital importância para toda aquela vasta região, pois, através dela, escoa-se
toda a sua produção. Por sinal, uma das maiores deste município, uma vez que,
ali se assentam as melhores terras para o cultivo do algodão, do milho, do
feijão, do arroz, entre outros.
Não foi por acaso, que os primeiros
colonizadores ali se estabeleceram, tanto com grandes fazendas de criação
quanto com roçados de plantação. Foram eles, todavia, atraídos pelas riquezas
fertilizantes do solo e, sobretudo, pela grande abundância de pastagens e
aguadas, o que, ainda hoje é patente.
Já é hora de se pensar em fazer alguma
coisa no sentido de que esse angustiante problema seja solucionado e,
consequentemente, amenizado o sofrimento daquela população que – como os seus
ancestrais – encontra-se entregue a mercê da própria sorte, sem perspectiva de
melhores dias.
O aterramento de algumas lagoas e a
construção de pontilhões sobre os riachos do Olho d’Água e das Emboscadas
resolveriam, em parte, esse problema; reduzindo-se consideravelmente o percurso
a ser feito pelos “ilhéus”, quando esses riachos transbordam e os obrigam ao
isolamento total.
Vale
ressaltar que, no momento, está sendo construída uma passagem molhada sobre o
riacho do Olho d’Água, interligando a Rua Irinéia Dantas Rocha ao Bairro Cônego
Luiz Gualberto de Andrade, concretizando-se
assim um grande sonho dessa comunidade. No período do inverno, a estrada
apresentava muitos buracos em virtude dos constantes alagamentos, além de ficar
intransitável durante vários dias, dificultando
a entrada e a saída do local. A obra vai facilitar a vida dos moradores desse
conjunto residencial, dando-lhe um novo acesso. Entretanto, se não for
construída, também, uma passagem molhada sobre o riacho das Emboscadas, o
problema continuará prejudicando o deslocamento dos habitantes dos sítios acima
citados à sede do município, ou vice-versa, deixando-os no mais completo isolamento,
principalmente na época de cheias não só deste riacho, mas também do rio do
Peixe.
Veja, também, em
http://aracasfm.com.br/, postado a
24 de abril de 2013, sem o comentário acima, é
claro
Quero deixar registrado meus agradecimentos aos idealizadores deste canal de informações: Por prestar um serviço altamente relevante! Se não existisse este blog, não conheceríamos a história de nossa cidade! Especialmente, àqueles que por algum motivo, saímos da nossa cidade mãe, quando éramos muito pequeninos.
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