NO TEMPO DE LAMPIÃO
Antonio Nogueira da Nóbrega
.
.png)
O cangaceiro aproximou-se de Joãozinho e apontou-lhe um fuzil
engatilhado, barrando-lhe a passagem.
- Menino, você gosta de ovo cru ou estralado?
– pergunta-lhe o bandido com ar ameaçador.
-
Nem cru nem estralado! Eu não gosto de ovos, não, meu senhor! – responde-lhe o
pirralho, tremendo da cabeça aos pés.
- Ah! Entendi! Mas, prepare-se, porque você
vai engolir esses ovos tudinho, já-já! - sentenciou o bandoleiro. Com uma das
mãos, o cangaceiro foi tirando os ovos da vasilha, um a um, e quebrando-lhe uma
das extremidades no cano da arma e dando ao menino para ingerir.
A cuia já estava se esvaziando quando, de repente,
surge outro cangaceiro de dentro
do mato e
grita:
- Não faça isso com a criança, rapaz!
Deixe-o passa em paz, no que foi obedecido.
Joãozinho era de baixa estatura; por isso, o cangaceiro chamou-o de
criança.
.png)
Essa
era, portanto, a segunda vez que Lampião passava por São João do Rio do Peixe, surrando,
assaltando e incendiando, além de matar diversas pessoas, entre as quais:
Cícero Rafael e Antônio Belizário, residentes no sítio Formigueiro; Manuel
Francisco de Assis, conhecido como Manuel Chiquinho, no Vaquejador; Antonio
Quaresmas, em Santa Helena e Joaquim Gabriel, nos Cabaços, entre outros. A
primeira passagem ocorreu no ano anterior, 1926, tendo sido marcada pelo
assalto à casa comercial de João Marinho localizada no então distrito de Pilões,
onde o comerciante residia. Além do prejuízo material que lhe causaram, os
cangaceiros tiveram a ousadia de danças com suas filhas, causando-lhe grande
constrangimento. Envergonhado e revoltado, com tamanha ofensa moral, João
Marinho vendeu todos os seus bens e foi embora para bem longe daqui e nunca
mais deu notícia.
Essa história me foi contada pelo próprio João Nóbrega da Silva e sua
irmã, Ana Nóbrega da Silva, filhos de Francisco Nóbrega da Silva e Joaquina
Nóbrega da Silva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário