Desse casarão,
construído por volta da década de 1850, na
localidade de Engenho Novo,
município de São João do Rio do Peixe, por iniciativa do major João Gonçalves
Dantas (filho do capitão-mor Domingos João Dantas), hoje restam apenas os vestígios
de suas ruínas.
O interior do
velho casarão era confortável, pois possuía um andar superior, com piso em
madeira de lei, onde ficavam os reservados quartos de dormir e o cofre. O
acesso a esse pavimento era feito por meio de uma escada larga, artisticamente
trabalhada em madeira de cedro. Ali, jogados no chão, na frente da casa, no local onde havia uma
calçada alta, ainda podem ser observados os restos de um dos três carros de boi.
(Ver terceira foto)
Às margens do riacho que
banha a localidade, havia umas oiticicas
frondosas sob as quais se arranchavam ciganos e retirantes; por isso, a
localidade era conhecida por Rancho (até 1853 ela ainda conservava esse nome),
e esse curso d’água, de riacho do Rancho. Posteriormente, o seu proprietário, o
major João Gonçalves Dantas (falecido em 1884, cujo inventário processou-se a
20/08 do mesmo ano), casado com Luíza
Gonçalves Dantas, comprou um engenho novo, com moendas de ferro. A partir daí,
o lugar passou a chamar-se Engenho Novo,
e o curso d’água, de riacho do Engenho Novo.
Até 1985, ano em que foi
completamente abandonado, esse prédio (construído por mãos de escravos), encontrava-se
em bom estado de conservação, e ainda era habitado por alguns descendentes do
capitão-mor Domingos João Dantas e Mariana Gonçalves Dantas, tronco familiar do
qual descende quase toda a família Dantas
Gonçalves do município são-joanense. Mariana Gonçalves Dantas era
filha do tenente Manuel Gonçalves Dantas e Josefa de Mello e
Albuquerque. Dessa união conjugal, nasceram cinco filhos: quatro homens e uma mulher, cujos nomes
constam do inventário.
O capitão Domingos João,
como era mais conhecido, faleceu a 30 de abril de 1853, e o inventário foi realizado
no mesmo ano, no período de 25/06 a 09/07, pelo Padre Joaquim Theofilo da
Guerra (juiz árbitro), sob o juramento dos Santos Evangelhos, sendo estes os herdeiros:
Mariana Gonçalves Dantas, viúva, meeira, e os filhos seguintes Antônia Maria Madalena, já falecida, sendo
representada pelos filhos: Domingos João Dantas, casado, 38 anos de idade, e José
Soares Távola, casado, 37 anos de idade; Manuel Gonçalves Dantas, 53 anos de
idade, padre; José Gonçalves Dantas, 51
anos de idade, padre; João Gonçalves Dantas, 47 anos de idade, major, e André
Gonçalves Dantas, 38 anos de idade, sem patente. Entre
os bens arrolados pelo escrivão nomeado, José Gonçalves Dantas, encontravam-se 1.670
cabeças de gado vacum e 47, cavalar. Daquele total, havia 1.100 vacas (mil e
cem), entre solteiras e paridas; 290 novilhos; 200 garrotes, 50 novilhas; e 30
bois (fora uma porção de bois que não foram catalogados); dois cordões de ouro:
um medindo três varas e uma quarta,
pesando quatorze oitavas e o outro, duas varas e meia quarta, pesando oito
oitavas (vara: antiga medida de comprimento equivalente a um metro e dez
centímetros); um colar de prata, medindo
uma vara e meia quarta; um crucifixo de ouro, pesando dezesseis oitavas; um par
de argolas, lisas, de ouro, pesando uma oitava e meia; uma Sesmaria, uma Data de Selvas, três sítios
de criar; tinta e cinco partes de terra; dezessete casas.
Entre essas habitações, havia uma que chamava a
atenção, em particular, por seus aspectos: o solar dos Dantas Gonçalves.
Trata-se, pois, de um prédio grande, coberto de telha, com
dezessete portas e quatro janelas e mobília, localizado no então povoado de São
João (hoje São João do Rio do Peixe). Além disso, havia, no local, uma senzala
e 4 currais de pau-a-pique, pegado aos quais havia um cercado que ficava por
trás da casa. Tudo indica que esse casarão ainda existe, no centro da cidade, e
hoje pertence aos herdeiros de José Alexandre Filho, mais conhecido por Senhor
Alexandre (foto acima).
Além do mais, entraram, como objetos de partilha, por ocasião do espólio, 17
escravos, a saber: Gonçalo, negro
velho, crioulo, 52 anos de idade, avaliado em 250$000 (duzentos e cinquenta mil
réis); Pedro, negro, crioulo, 45
anos de idade, quebrado de uma virilha, avaliado em 200$000 (duzentos mil réis); Joaquim, negro, crioulo, 40 anos de idade, avaliado em 300$000
(trezentos mil réis); Francisco, negro,
angolano, 40 anos de idade, avaliado em 300$000 (trezentos mil réis); Vicente, cabra, ferreiro, vinte e oito
anos de idade, avaliado em 700$000 (setecentos mil réis); Sirino, mulato, 26 anos de idade, avaliado em 500$000 (quinhentos
mil réis); Antonio, cabra, 22 anos
de idade, avaliado em 400$000 (quatrocentos mil réis); José, cabra, 20 anos de idade, avaliado em 500$000 (quinhentos mil
réis); Martinho, cabra, 25 anos de idade, avaliado em 400$000 (quatrocentos
mil réis); Pedro, angolano, negro,
35 anos de idade, avaliado em 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis); Serafim, cabrinha, 12 anos de idade, avaliado em 300$000
(trezentos mil réis); Es...não,
moleque, crioulo, 4 anos de idade, avaliado em 150$000 (cento e cinquenta mil
réis); Anna, negra, crioula, 53 anos de idade, avaliada em 120$000 (cento e vinte mil réis); Dorothea, negra,
crioula, 35 anos de idade, avaliada em 350$000 (trezentos e cinquenta mil
réis); Maria, cabocla, 35 anos de idade, avaliada em 300$000 (trezentos
mil réis); Victória, mulata, 20 anos de idade, doente, avaliada em 200$000
(duzentos mil réis); Maria Thereza, negra,
crioula, 19 anos de idade, doente, avaliada em 200$000 (duzentos mil réis); Francisca, cabra, 18 anos de idade,
avaliada em 400$000 (quatrocentos mil réis); Luzia, negrinha, 8 anos de idade, avaliada em 300$000 (trezentos
mil réis).
Segundo consta, em 1816, o
capitão-mor Domingos João Dantas residia em Piancó-PB, quando aparece como requerente de
terras na região que compreende o atual município de Diamante-PB, que, na
época, pertencia àquele município. Feita
a concessão, ele recebeu uma parte de terra que tinha os seguintes limites: ao
norte, a fazenda Jenipapo; ao sul, os Sítios Antas e Bruscas; ao leste, a
fazenda São Boa Ventura; e, ao oeste, o Sítio Milho D'angola e Santana.
Entretanto, no ano de 1846, atendendo a um pedido de José Veríssimo,
seu vaqueiro, o Capitão Domingos João Dantas doou um terreno para a construção da primeira capela do
lugar. Logo após a doação, foi erguida
uma pequena latada, coberta de palha de carnaúba, sob a qual havia um oratório gurdando
a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Até
então, o local era conhecido por Paulo Mendes, em homenagem ao seu primeiro
professor. Posteriormente, passou a chamar-se São Paulo e, finalmente, Diamante.
Por volta da década de 1850, a latada foi transformada
em capela, e recebeu a imagem de Nossa Senhora da Conceição, talhada em
madeira, doada pelo capitão-mor Domingos João Dantas. Assim, em torno da
capela, nasceu e cresceu a povoação que resultou na atual cidade de Diamante. (Ver em Wikipédia,
a enciclopédia livre).
Conforme
declarações de Mariana Dantas Gonçalves, contidas no inventário dos bens
deixados por seu esposo, o capitão-mor Domingos João Dantas, realizado no ano
de 1853, em São João do Rio do Peixe-PB, ele era proprietário de 21 (vinte e uma) partes de terra, no município de Piancó-PB, sendo
assim distribuídas: 12 (doze) no Sítio Paulo Mendes, 4 (quatro) na Fazenda
Bruscas, 1 (uma) no Bebedor Cabueira, 1 (uma) em Manguenza, 1 (uma) em Furada,
1 (uma) Sesmaria, e 1 (uma) Data de Selvas em Diamante. Além disso, possuía 2
(dois) currais de pau-a-pique, em Paulo Mendes, 1 (uma) casa na Fazenda Vaca
Morta e outra, na Fazenda Bruscas.
Os bens
descritos no inventário do capitão-mor Domingos João Dantas, espalhados por
várias localidades dos estados da Paraíba e Ceará, chegaram ao montante de 52:069$500
(cinquenta e dois contos, sessenta e nove mil e quinhentos réis), sendo dividido
esse total em duas partes iguais, ficando uma para a viúva e a outra, para os
herdeiros.
Major João Gonçalves Dantas, esposa e filhas, gêmeas:
Que surpresa agradavel esse blog! Minha familia é de SJRP, mas nunca tive a oportunidade de conhecer a cidade, e pouco sei sobre meus ancestrais e a vida que levavam. Adorei viajar no tempo com o casarão do Engenho Novo.
ResponderExcluirFico ansiosamente aguardando mais relatos de outras fazendas ou quem sabe a vida de pessoas ilustres ou nao dos seculos passados!
linda historia dos meus ancestraia lembro uando menina meu avo falava de seus ancestrais o sr major João gonçalvez dantas.......lembro ainda ue ele guardava consigo uma simplis lembrança era uma espora em forma de uma cobra j kebrada na kal pertencia ao seu antepassdo...........bjs amo ver e ler fotos de minha cidade...............
ResponderExcluirMeu pai que infelizmente já é falecido nasceu em engenho novo.Mais não conheço os seus familiares.
ResponderExcluirMeus avós são Rita Flor dos santos e José Oscar Cassiano.
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