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quarta-feira, 4 de julho de 2012

QUEM É QUEM? (Quezado)




Luiz Dantas Quezado, o poeta-vaqueiro
                                                           

Antonio Nogueira da Nóbrega

          Se vivo estivesse, hoje, dia 05/07/2012, Luiz Siqueira Dantas, mais conhecido como Luiz Dantas Quezado, estaria fazendo 162 anos de  idade. Considerado o maior glosador do Brasil, de todos os tempos, nasceu Quezado no dia 05/07/1850, no Sítio Caiçara,  município de São João do Rio do Peixe e faleceu no dia 05/04/1930, em Aracati, Ceará, deixando seu único livro: “GLOSAS SERTANEJAS”, publicado em 1922, prefaciado por Dr. Florêncio de Alencar, com o pseudônimo de J. Cariri. A seu respeito, assim fala o livro Antologia Ilustrada dos Cantadores: “Aureolado pelas graças da divina Calíope, veio ao mundo, no ano de 1850, na Ribeira de São João do Rio do Peixe, hoje Antenor Navarro, Luís Dantas Quesado, filho de ilustres famílias paraibanas, considerado pelos mestres do folclore nacional como o maior glosador de todos os tempos. Colocado no mesmo plano de Inácio e Romano Caluete; não se podendo falar, atualmente, de poesia sem que seu glorioso nome deixe de vir à baila.”                                                                                                                                                      
         Filho de Luís Dantas, Quezado casou-se com Maria de Jesus Dantas. Desse consórcio, nasceram  três filhos, a saber: Chateaubriand, Estefânia e Graziela, esta falecida em tenra idade.

Lembrando um pouco de sua vida e sua obra, vamos publicar, aqui, algumas composições da vasta lavra desse grande vate sertanejo.                                                                
            Certa vez, Quezado encontrava-se no seu sítio Roncador, dedicando-se à agricultura e à criação de cabras, quando recebeu este malcriado bilhete, enviado por seu primo, Napoleão Quezado, outro excelente poeta, com o qual gostava de brincar, trocando tal tipo de correspondências:   

“O velho Luiz Quezado
Passa a vida pobremente,
Na boca não tem um dente,
Com que mastigue um bocado,
No “Roncador” isolado,
Sem recurso e sem dinheiro,
Comeu o pai do terreiro,
Só lhe resta uma galinha,
Dos possuídos que tinha,
Só ficou o “tabaqueiro”.        

       Ao receber aquele insultante bilhete,
o velho Quesado, à queima-roupa,
mandou-lhe a seguinte resposta:

“O velho Luiz Quesado
Não passa a vida pobremente,
Tem, além do “Tabaqueiro”,
Uma  cabrita melada,
Muita cana replantada,
O burro “Peitica”, um carneiro
E, ainda prisioneiro,
Um macaco na corrente,
Algum feijão de semente,
Muito milho empaiolado;
O velho LUIZ QUESADO
Não passa a vida pobremente.”



OUTRAS GLOSAS DE QUEZADO


SAUDAÇÃO AO RECÉM-CHEGADO
         VIGÁRIO DA PARÓQUIA

Ó Senhor, não batei palmas
Por um pastor te chegado.
Eu sou o pastor do gado,
Vós sois o pastor das almas.
Vós viveis com todas calmas,
Eu vivo com lutadores,
Vós viveis entre os doutores
Instruindo e dando  exemplo,
Eu  no campo vós no templo,
Nós ambos somos pastores.”


APRESENTAÇÃO DO
    NEGRO BALIZA

- Este é o negro Baliza,
Que mora ali, no Besouro;
Tem tanta morte no couro,
Que só botão na camisa;
Para matar não alisa;
Tem sangue de cangaceiro;
É feroz e traiçoeiro;
Sabe roubar por estudo;
Duma vez só, rouba tudo:
Honra, existência e dinheiro!



NEM TODO PAU DÁ ESTEIO

Nem todo pássaro voa,
Nem todo inseto é besouro
Nem todo judeu é mouro, '
Nem todo pau dá canoa;
Nem tôda notícia é boa,
Nem tudo que vejo eu creio,
Nem todos zelam o alheio,
Nem tôda medida é reta, _
Nem todo homem é poeta,
Nem todo pau dá esteio.


Nem tôda água é corrente.
Nem todo adoçado é mel,
Nem tudo que amarga é fel.
Nem todo dia é sol quente;
Nem todo cabra é valente.
Nem tôda roda tem veio,
Nem todo matuto é feio,
Nem todo mato é floresta,
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.


Nem todo pau dá resina,
Nem toda quentura é fogo,
Nem todo brinquedo é jôgo,
Nem tôda vaca é leiteira;
Nem tôda moça é faceira.
Nem todo golpe é em cheio,
Nem todos  livros eu leio,
Nem todo trilho é estrada,
Nem tôda gente me agrada.
Nem todo pau dá esteio,


Nem todo estrondo é trovão.
Nem todo vivente fala,
Nem tudo que fura é bala.
Nem todo rico é barão;
Nem todo azêdo é limão,
Nem todos pagam "bloqueio",
Nem tôdas as noites ceio,
Nem todo vinho é de uva,
Nem tôda nuvem traz chuva,
Nem todo pau dá esteio.


Nem todo prêto é carvão,
Nem todo azul é anil,
Nem tôda terra é Brasil,
Nem tôda gente é cristão;
Nem todo índio é pagão,
Nem tôda agência é Correio.
Nem tôda vaje é passeio,
Nem todos prezam bom nome,
Nem tôda fruta se come,
Nem todo pau dá esteio.


Nem todo lente é sabido,
Nem tudo que é branco é leite,
Nem todo óleo é azeite,
Nem todo rôgo é ouvido,
Nem todo pleito é vencido,
Nem todos vão ao sorteio,
Nem todo sitio é recreio, 
Nem tôda massa é de trigo,
Nem todo amigo é amigo,
Nem todo pau dá esteio.



            UM BEIJO EM
      MULHER MEDROSA

Um beijo em mulher medrosa,
Dado escondido, às escuras,
É a maior das venturas
Que a alma do homem goza.

O beijo que é concedido,
Com liberdade e franqueza,
Parece uma sobremesa,
Depois de um jantar sortido.


Não deve o beijo ser dado
Com franca condescendência,
Mas sempre com resistência
Para poder ser furtado.

Convém que o beijo se tome
Depois de renhida luta,
como se fôsse uma fruta
Comida por quem tem fome...

Mas o beijo, a qualquer hora,
Que mais provoca o desejo
E quando a dona do beijo
Suspira, soluça e chora.

Porém o maior sabor
É quando a mulher nos nega,
Porque então a gente pega
E beija seja onde fôr!!!...



Referências:

GUERRA, Severino Fernandes. Navarrenses Ilustres. Fortaleza, IOCE, 1986.

CARTAXO, Rosilda. Estrada das Boiadas, roteiro para São João do Rio do Peixe. João Pessoa: Noprigal, 1975.

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