Luiz Dantas Quezado, o poeta-vaqueiro
Antonio Nogueira da Nóbrega
Se vivo estivesse, hoje,
dia 05/07/2012, Luiz Siqueira Dantas, mais conhecido como Luiz Dantas Quezado,
estaria fazendo 162 anos de idade.
Considerado o maior glosador do Brasil, de todos os tempos, nasceu Quezado no
dia 05/07/1850, no Sítio Caiçara, município
de São João do Rio do Peixe e faleceu no dia 05/04/1930, em Aracati, Ceará,
deixando seu único livro: “GLOSAS SERTANEJAS”, publicado em 1922, prefaciado
por Dr. Florêncio de Alencar, com o pseudônimo de J. Cariri. A seu respeito,
assim fala o livro Antologia Ilustrada dos Cantadores: “Aureolado pelas graças
da divina Calíope, veio ao mundo, no ano de 1850, na Ribeira de São João do Rio
do Peixe, hoje Antenor Navarro, Luís Dantas Quesado, filho de ilustres famílias
paraibanas, considerado pelos mestres do folclore nacional como o maior glosador
de todos os tempos. Colocado no mesmo plano de Inácio e Romano Caluete; não se
podendo falar, atualmente, de poesia sem que seu glorioso nome deixe de vir à
baila.”
Filho de Luís Dantas, Quezado casou-se
com Maria de Jesus Dantas. Desse consórcio, nasceram três filhos, a saber: Chateaubriand,
Estefânia e Graziela, esta falecida em tenra idade.
Lembrando um
pouco de sua vida e sua obra, vamos publicar, aqui, algumas composições da
vasta lavra desse grande vate sertanejo.
Certa vez, Quezado encontrava-se no seu
sítio Roncador, dedicando-se à agricultura e à criação de cabras, quando
recebeu este malcriado bilhete, enviado por seu primo, Napoleão Quezado, outro
excelente poeta, com o qual gostava de brincar, trocando tal tipo de
correspondências:
“O velho Luiz Quezado
Passa a vida pobremente,
Na boca não tem um dente,
Com que mastigue um bocado,
No “Roncador” isolado,
Sem recurso e sem dinheiro,
Comeu o pai do terreiro,
Só lhe resta uma galinha,
Dos possuídos que tinha,
Só ficou o
“tabaqueiro”.
Ao receber aquele insultante bilhete,
o velho Quesado,
à queima-roupa,
mandou-lhe a
seguinte resposta:
“O velho Luiz
Quesado
Não passa a vida
pobremente,
Tem, além do
“Tabaqueiro”,
Uma cabrita melada,
Muita cana
replantada,
O burro
“Peitica”, um carneiro
E, ainda
prisioneiro,
Um macaco na
corrente,
Algum feijão de
semente,
Muito milho
empaiolado;
O velho LUIZ
QUESADO
Não passa a vida
pobremente.”
OUTRAS GLOSAS DE QUEZADO
SAUDAÇÃO AO RECÉM-CHEGADO
VIGÁRIO DA PARÓQUIA
Ó Senhor, não
batei palmas
Por um pastor te
chegado.
Eu sou o pastor
do gado,
Vós sois o pastor
das almas.
Vós viveis com
todas calmas,
Eu vivo com
lutadores,
Vós viveis entre
os doutores
Instruindo e
dando exemplo,
Eu no campo vós no templo,
Nós ambos somos
pastores.”
APRESENTAÇÃO DO
NEGRO BALIZA
- Este é o negro Baliza,
Que mora ali, no Besouro;
Tem tanta morte no couro,
Que só botão na camisa;
Para matar não alisa;
Tem sangue de cangaceiro;
É feroz e traiçoeiro;
Sabe roubar por estudo;
Duma vez só, rouba tudo:
Honra, existência e dinheiro!
NEM TODO PAU DÁ
ESTEIO
Nem todo pássaro voa,
Nem todo inseto é besouro
Nem todo judeu é mouro, '
Nem todo pau dá canoa;
Nem tôda notícia é boa,
Nem tudo que vejo eu creio,
Nem todos zelam o alheio,
Nem tôda medida é reta, _
Nem todo homem é poeta,
Nem todo pau dá esteio.
Nem tôda água é corrente.
Nem todo adoçado é mel,
Nem tudo que amarga é fel.
Nem todo dia é sol quente;
Nem todo cabra é valente.
Nem tôda roda tem veio,
Nem todo matuto é feio,
Nem todo mato é floresta,
Nem todo bonito presta,
Nem todo pau dá esteio.
Nem todo pau dá resina,
Nem toda quentura é fogo,
Nem todo brinquedo é jôgo,
Nem tôda vaca é leiteira;
Nem tôda moça é faceira.
Nem todo golpe é em cheio,
Nem todos livros eu
leio,
Nem todo trilho é estrada,
Nem tôda gente me agrada.
Nem todo pau dá esteio,
Nem todo estrondo é trovão.
Nem todo vivente fala,
Nem tudo que fura é bala.
Nem todo rico é barão;
Nem todo azêdo é limão,
Nem todos pagam "bloqueio",
Nem tôdas as noites ceio,
Nem todo vinho é de uva,
Nem tôda nuvem traz chuva,
Nem todo pau dá esteio.
Nem todo prêto é carvão,
Nem todo azul é anil,
Nem tôda terra é Brasil,
Nem tôda gente é cristão;
Nem todo índio é pagão,
Nem tôda agência é Correio.
Nem tôda vaje é passeio,
Nem todos prezam bom nome,
Nem tôda fruta se come,
Nem todo pau dá esteio.
Nem todo lente é sabido,
Nem tudo que é branco é leite,
Nem todo óleo é azeite,
Nem todo rôgo é ouvido,
Nem todo pleito é vencido,
Nem todos vão ao sorteio,
Nem todo sitio é recreio,
Nem tôda massa é de trigo,
Nem todo amigo é amigo,
Nem todo pau dá esteio.
UM BEIJO EM
MULHER
MEDROSA
Um beijo em mulher medrosa,
Dado escondido, às escuras,
É a maior das venturas
Que a alma do homem goza.
O beijo que é concedido,
Com liberdade e franqueza,
Parece uma sobremesa,
Depois de um jantar sortido.
Não deve o beijo ser dado
Com franca condescendência,
Mas sempre com resistência
Para poder ser furtado.
Convém que o beijo se tome
Depois de renhida luta,
como se fôsse uma fruta
Comida por quem tem fome...
Mas o beijo, a qualquer hora,
Que mais provoca o desejo
E quando a dona do beijo
Suspira, soluça e chora.
Porém o maior sabor
É quando a mulher nos nega,
Porque então a gente pega
E beija seja onde fôr!!!...
Referências:
GUERRA, Severino Fernandes. Navarrenses Ilustres. Fortaleza,
IOCE, 1986.
CARTAXO, Rosilda. Estrada das Boiadas, roteiro para São João
do Rio do Peixe. João Pessoa: Noprigal, 1975.
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