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sexta-feira, 25 de maio de 2012

O JUAZEIRO DA MIJADA É TESTEMUNHA



Antonio Nogueira da Nóbrega


            Maltratado e carcomido pela ação do tempo, o velho “Juazeiro da Mijada” exala seus últimos suspiros, acenando seus ramos mirrados, despedindo-se do caminheiro que passa pela “Lendária Estrada das Boiadas”, em demanda à cidade e vice-versa. Já fora uma árvore grande e robusta, de galhos longos, que dava sombra a homens e bichos que, nas horas quentes do dia, buscavam abrigo sob a sua copa frondosa, que hoje não passa de um arremedo de fronde.  Fora, também, pousada de ciganos e retirantes,  bem assim alvo de atiradores e depredadores. Além disso, tem servido, ao longo de sua existência, de mijadouro aos passantes. Daí se originou  seu nome.
            É a única testemunha sobrevivente de um combate ferrenho que ocorreu aí, no dia 26/06/1832, quando José Dantas Rothea, filho do capitão-mor João Dantas Rothea (o fundador da cidade de São João do Rio do Peixe), emboscou uma tropa cearense que vinha pela “Estrada das Boiadas”, no rumo de Sousa, seguindo o encalço do coronel Joaquim Pinto Madeira, revolucionário cearense, que lutava pela volta de D. Pedro I ao trono.  O lugar, a partir daquele dia, passou a chamar-se “Emboscada”. Entretanto, muito tempo depois, já por volta do último quartel do século XX, houve uma nova emboscada, no mesmo lugar, só que dessa feita dos Pereira do Sítio Araçás contra os Italiano, residentes no mesmo lugar, ficando aqueles escondidos por trás das barrancas do rio do Peixe; mas, como da outra vez, não morreu ninguém, houve apenas ferimentos leves da parte das vítimas da tocaia.
              “O espírito público no interior da Província estava em vacilação a vista dos factos desenrolados no cenário político desde o anno passado, principalmente na zona próxima dos limites com o Ceará, onde se achavam em campo o revolucionário Pinto Madeira e as forças que seguiam em seu encalço”
                 A vila de Souza, mais do que nenhuma, comungava desse estado de cousas, por isso o governo mandara forças ali estacionar, não só para garantir as autoridades no caso de um levante de partidos, como para obstar a invasão daquelle caudilho, conforme lhe fora ordenado por Aviso Imperial de 3 de Março deste anno.
                Além disso, o Juiz de Paz daquela villa vivia em desavença com algumas famílias de São João de Souza, entre ellas, a de José Dantas Rothéa, de grande prestígio e influência política.” ( Irineu Ferreira Pinto –  Datas e Notas para a História da Parayba).   “Nada mais perigoso que a autoridade em mãos que a não saibam usá-la” -  Jean-Jaques Rousseau.
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      “Em face de uma lucta terrível entre esses dois elementos políticos, estabelece-se no alto sertão a anrchia e a dissensão das famílias”. (IRINEU Ferreira Pinto - Datas e Notas para a História da  Parahyba.)
                 Procurado pela justiça do Crato-CE, onde residia, Pinto Madeira refugiou-se em São João do Rio do Peixe e tomou parte ativa no ataque à então Vila de Sousa, promovido por seu cunhado, José Dantas Rothea,  que, à frente de um numeroso grupo de homens armados de “bacamarte, atacou aquela povoação na madrugada de 02/06/1832, fazendo depredações de toda  natureza, além de cometer um criminoso atentado, que resultou a morte de seis pessoas. Tal fato se deu em represália ao Juiz de Paz daquela vila que ameaçava invadir São João do Rio do Peixe por causa de rusgas políticas entre ele e o caudilho são-joanense, José Dantas Rothea, que atacou primeiro.
     Eis o que diz um trecho de uma carta de Joaquim Pinto Madeira, data de 28/06/1833, escrita na Fortaleza do Brum, em Recife, e endereçada  a Vicente Ferreira de Paula – chefe dos cabanos - na qual ele manifestava a esperança de ser livre:  (...) e por agora qualquer resistência será inútil e fará piorar a sorte dos presos e empatar seus livramentos, por este motivo participei a meu cunhado (Dantas Rothéa) que no centro do Ceará comanda uma força nossa que fizesse aos poucos dispersar a sua gente para repousar à sombra da anistia que concedeu a Regência, recolhendo-se ele no recôncavo da Bahia para ali esperar pelas minhas últimas deliberais.”
            Naquela data (26/06/1832), a tropa cearense, reunindo-se com a do Juiz de Paz, formou um efetivo de mil homens e invadiu a então povoação de São João do Rio do Peixe, maltratando seus habitantes sob o pretexto de serem eles partidários de Joaquim Pinto Madeira.  Adentrando a capela de Nossa Senhora do Rosário, a tropa invasora cortou de faca as folhas de nº  2, 5 e 7 do livro de tombo desse templo. Nunca se soube que anotações tão importantes continham essas folhas, que causaram tanto interesse àquele juiz, que mandou destacá-las.              
                    Eis o que diz o Padre José Gonçalves Dantas a esse respeito: O abaixo-assinado, como Administrador desta Capela supra de Nossa Senhora do Rosário, filial à Matriz de Sousa, que digo, declaro, que as folhas  nº 2, 5 e 7 que faltam neste livro foram cortadas pelas tropas na revolução de 1832;  e que vai servir este mesmo livro para o lançamento da receita e despesa desta mesma capela, principiando de 1º de janeiro de 1862, com as precisas declarações. São João do Rio do Peixe, 1º de janeiro de 1862.
                                      Administrador Padre José Gonçalves Dantas”
Os Dantas marcaram a história da Paraíba com suas lutas políticas. Uma das figuras que mais se destacou nesses movimentos foi José Dantas Rothea, realista de 1817 e 1824, filho do capitão-mor João Dantas Rothea, o fundador da cidade. João Dantas Rothea foi um dos primeiros Dantas que apareceram na ribeira do rio do Peixe. No ano de 1765, ele requereu e obteve uma sesmaria no lugar chamado “As Alagoas”, situado entre os sítios São João, formigueiro (que já lhe pertenciam), olho D’água, Brejo e terras do Jaguaribe, este último no Estado do Ceará.


João Dantas Rothea, homem de grande prestígio e influência política na região sertaneja, nasceu a 04/02/1725, no lugar das Antas, Freguesia de São Pedro de Rubiães, distrito de Castelo, Portugal,  e morreu em São João do Rio do Peixe, em data que não se pôde apurar. Casou-se com Teresa de Jesus Maria. Desse consórcio nasceram os seguintes filhos: José Dantas Rothea, Thereza de Jesus e Ana de Jesus da Paz.  
           José Dantas Rothea morreu a 18/05/1862, aos 75 anos de idade, viúvo, em São João do Rio do Peixe, onde voltou a residir depois de ser beneficiado com um indulto de anistia, deixando os seguintes filhos: Raimundo Dantas Rothea,  Francisca  Dantas, Paulo  Joaquim Dantas,  Prudente Dantas Rothea, entre outros.
                                                                                                        


Fontes de referência:
PINTO, Irineu Ferreira. Datas e Notas para a História da Parayba.
CARTAXO, Rosilda. Estrada das Boiadas, roteiro para São João do Rio do Peixe. João Pessoa: Noprigal, 1975.
CARTAXO, Otacílio. Os caminhos geopolíticos da ribeira do rio do Peixe: A União  Editora, João Pessoa  - Paraíba, 1964.
Galvão, Rogério Cândido Ramalho. São João do Rio do Peixe Datas e Notas: Gráfica e Editora Halley S.A.
Teresina-PI,  2011








3 comentários:

  1. Veja se seria possível José ser filho do casal?

    Imagem 31 - Óbitos - Sousa -fls. 86v
    Theresa de Jesus (*1732), branca, viúva do Coronel João Dantas Rotheia de idade de 80 anos, faleceu de moléstia interior, com todos os Sacramentos em 07/01/1812, foi amortalhada, digo, foi envolta em Hábito Franciscano, encomendada solenemente por mim Vigário e sepultada nesta Matriz das grades para cima, em dito dia, mês e ano, e para constar mandei fazer este assento que assino. O Vigário Cláudio Álvares da Costa.

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  2. Minha humílima contribuição ao resgate histórico de São João do Rio do Peixe-PB., pari-passu, a historia do nosso Siará Grande, comumente a genealogia do ilustre Cap.m João Dantas Rothea.

    Quanto à sua indagação, mestre Fábio Arruda, creio ser bem difícil, inexequível por assim dizer, o Cel. José Dantas Rothea ser filho do português, o Cap. mor João Dantas Rothea, pois esse já contabilizaria 62 anos quando do nascimento do primeiro filho (José). Perceba que sua esposa, D. Teresa de Jesus enviuvou, ato continuo, faleceu aos 80 anos (1812), como bem aclarou o magister inter pares F. Arruda.

    Todavia, acredito poder solucionar o imbróglio em tela.

    Estou convencido que tivemos 02 (dois), isso mesmo, 02 (dois) Cap. Mor João Dantas Rothea! Pai e filho homônimos que a historiografia descurou-se em contabilizar.

    Senão vejamos os assentamentos que infra reproduzo...

    “ANTONIO, párvulo filho legítimo do Capm. João Dantas Rothea natural do Piancó e de sua mulher Anna de Jesus natural desta freguesia, nasceu aos dois de janeiro de 1786 e foi batizado com os Santos óleos por mim Cura abaixo assinado na Capela do Frade (Riacho do Sangue, atual Jaguaretama-CE. - Aquela época pertencente a freguesia de São Bernardo de Russas, atual Russas-CE.) aos cinco de março do mesmo ano e foram padrinhos o Padre José Dantas Rothea (sic) por procuração apresentada pelo Capm José Rodrigues da Silva e Eugênia Maria Maciel, viúva, e para constar mandei fazer esse assento em que me assino, O Cura Manoel da Fonseca Jaime (Vigário de Russas)”.

    Mais...

    “MARIA, párvula filha natural de Antonia escrava do Cap.m João Dantas Rothea morador desta Freguesia, nasceu aos doze de fevereiro de 1786 e foi batizada com os Santos óleos por mim Cura abaixo assinado na Capela do Frade aos cinco de março do mesmo ano e foram padrinhos o Capm. Miguel Gonçalves Ferreira por procuração apresentada pelo Capm. José Rodrigues da Silva, ambos casados, fregueses desse Curato e Eugênia Maria Maciel, viúva, e para constar mandei fazer esse assento em que me assino, O Cura Manoel da Fonseca Jaime”.

    Destarte pelo retro exposto dados dos assentamentos podemos inferir que:

    Primum: Pela cronologia o Capm. João Dantas Rothea, segundo do mesmo nome, supostamente teria 25-30 anos quando do nascimento do seu filho Antonio, o que remeteria seu nascimento para 1761-1756, ato contínuo o Capm. João Dantas Rothea, português, primeiro deste nome, muito bem atenderia a cronologia pois teria 36-31 anos quando gerou o Capm. João Dantas Rothea (II);

    Secundum: Um e outro Capm. João Dantas Rothea não podem ser a mesma pessoa pois no assentamento da Maria, filha da sua escrava Antonia, o Pe. Manoel da Fonseca Jaime bem destaca que o Capm. João Dantas Rothea (II), É MORADOR DESTA FREGUESIA.

    Tertium: A esposa do Capm. João Dantas Rothea chamava-se Ana;

    Quartum: Depreendemos que o Capm. João Dantas Rothea (II) além de residir no termo de São Bernardo de Russas, mais precisamente no Riacho do Sangue (Frade), tem ali propriedade, pois já com escravatura no lugar;

    Quintum: Ora, falecendo o Cel. José Dantas Rothea em 1862 aos 75 anos, temo-lo bem assestado para o ano de 1787, época em que topamos com o assentamento de batismo do Antonio filho do Capm. João Dantas Rothea (II) e sua sua esposa Ana;

    Sextum: Muito provavelmente o José Dantas Rothea, realista, cunhado do injustiçado Cel. Joaquim Pinto Madeira, do qual o Sr. Antonio Nogueira da Nóbrega tão brilhantemente discorre, era NETO do Capm. João Dantas Rothea (I) o fundador da urbe de São João do Rio do Peixe-PB., e quiçá filho do Capm. João Dantas Rothea (II).

    Disponha sempre deste colega atento, pois sempre quando acionado pronto,

    Clovis Ferreira da Cruz Ribeiro Campos Lobo

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  3. O Mestre Clovis bem que poderia fechar sua brilhante participação com um largo CQD ("como queríamos demonstrar"). É o que chamo de genealogia cartesiana, onde os ajustes das imprecisões se faz por aproximações temporais factíveis e contextualizadas. Mui diferentes daqueles ajustes feitos por "inapiração mediúnica" ou deduções falaciosas.

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